O início

Um (não tão) breve percurso histórico

Yo minna! Hoje vim trazer um pouco do percurso histórico do manga! Apesar de não ser do interesse de muitos, acho importante conhecermos a origem do que tanto nos interessa, não é mesmo? Mesmo você sendo preguiçoso, prepara a pipoca, o copão de refri e senta que lá vem história!

Se existe algo complicado nesse mundo, é datar coisas! Principalmente se tratando do oriente que é um povo muito antigo e cheio de histórias milenares.. Como muitos sabem, o papel só foi inventado lá pelos 200 a.C e muitas civilizações só fizeram uso deste muito depois. Enquanto isso, as histórias eram passadas pro via oral (e venhamos e convenhamos que a galera gosta de aumentar e adicionar coisas que não existem). Eu poderia levar em conta os desenhos realizados em rochas e tal, mas vamos focar no ‘papel’ ok?

A ARTE ORIENTAL

TETRO DE SOMBRAS | 皮影戏

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Para muitos, tudo teve início com o teatro de sombras, uma arte milenar chinesa. Segundo uma lenda datada de 121 d.C, o imperador Wu Ti, da dinastia Han, teria ficado desesperado com o falecimento de sua bailarina preferida. Com isso, ordenou a um mago que a trouxesse de volta a vida do “mundo das sombras”. Tendo a sua vida em jogo, o mago se utilizou de sua destreza para criar algo mais possível que trazer alguem de volta do mundo dos mortos. Assim, se utilizou de uma pele macia e transparente de peixe para gerar a silhueta da bailarina e uma cortina branca contra o sol para gerar a sombra. No dia de trazer a bailarina de volta a seu imperador, o mago ao tocar a flauta, fez surgir a sombra da graciosa bailarina. Com isso, surgiu o teatro de sombras.

SUMI-E | 墨絵

Japan Traditional japanese painting Sumi-e art

O sumi-e é uma técnica de pintura que se utiliza de pincel, uma tinta similar ao nanquim e papel feito a base de arroz. Surgiu na China por volta de II d.C e sua nomenclatura japonesa pode ser traduzida como ‘pintura com tinta’. O sumi-e é uma arte extremamente complexa, exigindo de seu artista grande habilidade e concentração afim de expressar seu interior e elegância no traço. Essa arte reúne elementos da caligrafia e desenho, fazendo parecer uma simples composição, porém, o objetivo do sumi-e é passar sua mensagem de maneira precisa e sem equívocos.

EMAKIMONO | 絵巻物

Emakimono_schema.pngMuito mais recente que o teatro de sombras, temos o emakimono, uma arte datada no período Nara, século VII d.C. O emakimono é uma arte realizada em um grande pergaminho (média de 10 metros) e que narra uma história ao seu desenrolar. Para alguns, essa é a narrativa visual mais antiga do mundo! O primeiro emakimono é o Inga Kyo, uma cópia de uma obra chinesa (apesar da china copiar tudo hoje em dia, podemos perceber que isso é uma nítida vingança por ter sido tão copiada no passado kkkkk).

E_inga_kyo_-_Nara_National_Museum_-_part1Inga Kyo

Somente em meados do século XII, surgem os primeiros emakiminos no estilo japonês. O emakimono mais conservado é o Genji Monogatari (源氏物語), contendo nele o Chōjū-giga (鳥獣戯画) ligado à Toba Sōjō, também conhecido como Kakuyū.

sengoku choju gigaSengoku Choju Giga

UKIYO-E| 浮世絵

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No período Edo, surgiu a mudança dos rolos pelos livros. Inicialmente tais livros destinavam-se à ilustrações de romance e poesia, antes do surgimento da estampa única Ukiyo-e. O Ukiyo-e teve seu início no consumo da classe mercante e abordava temas como  a beleza feminina, o teatro kabuki, os lutadores de sumô, cenas históricas e lendas populares, cenas de viagem e paisagens,  a fauna e a flora, e pornografia. O termo traduzido literalmente significa algo como ‘retratos do mundo flutuante’ e é conhecido como ‘estampa japonesa’. O Ukiyo-e é uma arte em xilogravura e pintura que passa por um processo artístico com vários artistas. Primeiro temos o criador da obra, depois passamos pelo talhador, que ‘imprimia’ a obra nos blocos , o pintor, que pintava e prensava os blocos e, por último, o ‘empresário’ que financiava, promovia e vendia as obras. No início, as gravuras eram monocromáticas, aderindo a coloração e técnicas de degradê no decorrer do tempo.

KIBYOSHIS | 黄表紙

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Finalmente chegamos ao que se assimila mais ao mangá! Apesar de não ser considerado o primeiro mangá, o Kibyōshi possui muitas similaridades ao manga que conhecemos hoje. Ainda produzido em meados do período Edo, o Kibyōshi é considerado o primeiro volume de história em quadrinhos puramente adulto da literatura japonesa. Geralmente era seriado entre dois ou três volumes contendo uma média de trinta páginas. O principal foco do Kibyōshi era a cultura urbana sob uma visão satírica e comentários sobre as falha encontradas na sociedade contemporânea.

O estilo teve seu fim ao tentar ampliar seu público. Sim, é isso mesmo que você leu kkk. No início esses livros eram feitos de pessoas instruídas para pessoas instruídas, e, ao tentar ampliar para outras classes, a burguesia ficou enfurecida (a história sempre se repete ne? Só muda o local e o tempo).

A INFLUÊNCIA OCIDENTAL

Após um período conturbado entre os senhores feudais na Era Meije, o Japão finalmente reabre seu contato com o mundo ocidental. Com isso, houve também a abertura para o comércio de materiais diferentes, além do contato com outras artes e vertentes artísticas.

A parte mais cômica de toda essa história é que, apesar de toda a tradição e arte milenar oriental, os precursores do manga que conhecemos hoje em dia não foram os orientais, e sim os ocidentais! Com a chegada dos europeus às terras niponicas, esses se instalaram em diversos setores e isso inclui os jornais. Sendo eles os responsáveis pelas charges políticas da época (eu acho é muito engraçado a pessoa sair do país e ir zuar com o povo alheio.. Depois morre e não sabe porque!).

THE JAPAN PUNCH

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Jornal The Japan Punch

Em 1861 chega à Yokohama Charles Wirgman, um cartunista britânico que no ano seguinte cria o jornal satírico The Japan Punch. Contendo charges satíricas políticas e cotidianas da época, o francês George Bigot e, o até então dono da The Japan Punch, Charles Wirgman, publicaram muitos de seus trabalhos contendo desenhos e balões de diálogos. Com isso, começaram a difundir e ensinar diversos artistas japoneses técnicas ocidentais de desenho e pintura.

Apesar dos ocidentais trazer diversas influências e promover o cartoon no Japão, o cartunista japonês Yasuji Kitazawa (北澤 保次) é considerado o fundador do manga moderno. Kitazawa foi o primeiro cartunista profissional  japonês, criando quadrinhos seriados e personagens regulares, e o primeiro a usar o termo ‘manga’ no sentido que conhecemos.

manga2.jpgTagosaku to Mokubē no Tōkyō kenbutsu (田吾作と杢兵衛の東京見物)

Porém, Kitazawa pertenceu ao final da Era Meiji e início do período Shōwa , com quadrinhos voltados exclusivamente ao público adulto com foco nas mudanças políticas e economicas do Japão, características que herdou de seus antecessores. 

Com a Primeira Guerra Mundial, a crise econômica afetou o Japão e consequentemente a produção literária e artística. Foi nessa época  que houve a primeira forte divisão demográfica entre os públicos, adultos separado de crianças e o público feminino do masculino.

Em 1895, Iwaya Sazanami, um famoso escritor de literatura infantil, cria a revista Shōnen Sekai  mudando totalmente o cenário inicial dos mangas. Com fortes influências da Primeira Gerra Mundial, a primeira revista shōnen foi criada, sendo os mangas desse período conhecidos como ponchi-e (Punch Picture).

Com isso, em 1905 Kitazawa cria sua própria revista (ouvi um amém?), a Tokyo Pakku. Ainda no mesmo ano lança a Shōjo Sekai (isso não é plágio produção?), uma versão feminina da Shōnen Sekai, sendo esta considerada a primeira revista Shōjo e a Tokyo Pakku com público infantil.

 

 

Shōnen Sekai | Shōjo Sekai

Em 1924 a Kodomo Pakku foi criada por Tokyosha (acho que antigamente não existia plágio, porque não é possível kkk), esta se diferenciando de suas anteriores por conter uma arte de altíssima qualidade e alguns dos mangás apresentarem balões de diálogos, uma vez que os mangas anteriores não usavam balões de fala e eram mudos (havia apenas a narrativa).

Apesar da forte influência ocidental, com o tempo os artistas japoneses passaram a desenvolver seu próprio estilo tanto na narrativa como no traço artístico.

Porém, em meados dos anos 40, a imprensa sofreu uma forte censura por parte do governo e teve diversas atividades culturais e artísticas suspensas, sendo utilizadas apenas como meio de propaganda de guerra.

Em virtude disso, o Akai Hon – 赤本 (livro vermelho) foi criado. Este era feito de papel muito barato de baixa qualidade mas era onde os autores podiam gozar da liberdade. A remuneração era muito baixa, mas as tropas norte americanas de ocupação não se importavam com o conteúdo, contato que esse não denegrisse a imagem americana.

Com o orgulho japonês no chão ao perder a Segunda Guerra Mundial (escolheu o lado errado, deu nisso.. Embora que na guerra não existe lado certo, só dois soberanos discutindo seu EGO enquanto a maioria de classe mais baixa se lasca. Pronto, falei…) o manga foi uma forte saída, para adultos e crianças, daquela massa de ódio, rancor e vergonha que o país enfrentava. Esse grande movimento criativo  abriu portas para o manga que anteriormente eram inimagináveis, uma vez que todos os públicos tiveram acesso (devido ao baixo custo durante a guerra) e ao conforto e fuga que gerou aos corações aflitos da guerra.

Foi exatamente nesse período que surgiu o então nomeado patrono dos mangas: Osamu Tezuka. Sendo um dos mangakás do Akio Hon, Tezuka foi o modelador dos mangás que conhecemos nos dias atuais, tendo recriado a linguagem e dando início a era moderna dos mangas através de fortes influências de Walt Disney!

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Osamu Tezuka – O Diário de Ma-chan (マアチャンの日記帳, Maachan no Nikkichou) 1946

No mesmo ano (1946), a primeira mulher (direitos iguais!) também lança seu primeiro manga intitulado Sazae-san (サザエさん). Machico Hasegawa é considerada, ao lado de Osamu Tezuka, uma das primeiras artistas do manga moderno (mangaka). Atualmente sua obra, a animação de Sazae-san, é considerada a mais longa em produção, uma vez que teve início em 1969 e continua até os dias atuais com mais de 7300 episódios!

sazae-san.pngMachico Hasegawa – Sazae-san (サザエさん)

Com isso, o mangá se diversificou , em demografia e gêneros, e cada vez mais consolidou seu estilo e conquistou a todos. Ufa! Quem viagem histórica! Só pra deixar claro que ainda deixei alguns aspectos culturais e artísticos de fora porque esse artigo ficaria muito mais longo do que já esta.. Mas não se preocupem, deixei tudo anotadinho para futuros posts!

Espero que vocês tenham gostado e aprendido um pouquinho mais sobre essa arte que amamos tanto!

Ittekimasu | いってくる  :***

Referências:

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